quinta-feira, 20 de junho de 2013

Capitulo 6 - "Sei tudo."

       O mesmo sonho, noite após noite, sempre as mesmas caras desfocadas, sempre os mesmos olhares desesperantes, sempre a mesma sensação de vazio... Sempre tudo mais intenso.
       Já há uma semana que não dormia como deve de ser. Acordava de madrugada e era uma luta com os lençóis de tantas voltas que dava para (tentar) voltar a adormecer. A minha mãe já tinha dado conta das minhas olheiras, e às vezes dizia que me tinha ouvido gritar, mas disse-lhe que era apenas cansaço, por causa dos testes, e isso se estava a apoderar dos meus sonhos... O que não era totalmente mentira... Só que os "sonhos" não eram sobre a escola propriamente dita. Para agravar a minha situação, tinham descoberto uma praga no refugio. Ratazanas. Até parece que nunca tinham visto uma ratazana! Só que como foi um menino da equipa de futebol que descobriu, aqueles cujos pais são ricos, então tiveram logo de fazer uma limpeza total ao local.... Vá-se lá saber para que é que o rapaz queria aquilo mas pronto... E como resultado tivemos (nós, os refugiados) de almoçar no refeitório durante uma semana.
       Afonso, um rapaz e mais uma rapariga sentavam-se sempre juntos. O rapaz (que pelo que Anita me diz, chama-se Gabriel) e a rapariga (Inês) são bastante chegados. Estão sempre a rir e aos beijinhos, e com atitudes cúmplices de namorados, já Afonso está sempre mais calado, apesar de estar sempre com um sorriso (lindo de morrer, devo dizer) nos lábios.
       Sabem aquela coisa nada engraçada que os seres humanos têm de quando uma pessoa sorri a outra sorri também? Ou neste caso, quando olhamos para alguém.... Esse alguém olha de volta!
       Afonso esboçou-me um leve sorriso como quem dizia "apanhei-te"... Como não sabia se era mesmo para mim (o mais provável) olhei disfarçadamente para trás mas, surpresa das surpresas, eu estava na ultima fila de mesas. Estranho, no mínimo. Se eu não fosse a estranha da miúda invisível talvez fosse lá pedir-lhe explicações ou assim, mas esse era o problema, eu era a estranha da miúda invisível.
       Quando deu o toque de saída da minha última aula da tarde saí disparada, tão disparada que não reparei que Afonso estava no meu caminho e fui de contra a ele.
       -Desculpa! - Ele lançou outro daqueles sorrisos marotos que me começavam a enervar.
       -Não tenho mel...
       -Não sou uma abelha. - Lancei-lhe o sorriso de volta e depois de fintar mais umas pessoas lá consegui sair da sala.
       Graças ao meu pequeno incidente consegui perder o autocarro, o que podia significar duas coisas: Ir a pé ou esperar eternamente pela minha mãe. Sinceramente não me apetecia muito ir a pé.
       *Tuuuu.... Tuuu... Daqui fala Antónia, de momento não posso atender, mas assim que estiver disponível retorno a sua chamada. Piiiiiiii." Bonito, a minha mãe ainda não tinha saído do trabalho, mas também mais meia hora e ela tinha chegado, por isso achei melhor esperar.. Óbvio que não ia ficar na entrada da escola, sozinha, à espera da minha mãe, então decidi ir explorar os bosques... uma das coisas que eu amava nesta escola é que era rodeado por vastos campos de relva, com algumas árvores e banquinhos de madeira. Visto que tinha todo o tempo do mundo decidi ir para lá dessas árvores... Ver se, quem sabe, descobria alguma coisa interessante.
       Depois de muito andar descobri um lago, onde acredito que ninguém vá, porque está incrivelmente limpo, e situa-se numa clareira, onde acredito que ninguém se arrisca a ir... Excepto eu, porque eu gosto de arriscar. Mal cheguei à clareira comecei a ter dê-já-vus. Imagens familiares apareciam na minha mente. Olhares, toques, sons... Senti-me zonza e deixei-me cair de joelhos no chão. Podia jurar que já tinha ali estado! De repente um sentimento de terror e alivio apoderou-se de mim, o vazio começou a encher-se, cores, traços e palavras sobrepostas corriam pela minha mente. Tentei-me esforçar para decifrar algumas delas... "Porque é que olhas-te para o colar, Afonso?" o que? Colar? Levei a mão ao peito e senti o delicado pendente a brilhar e a irradiar calor na minha mão. " Queres mesmo saber o que tu és?", "não somos mesmo humanos", "guerra entre os dois lados do céu", "isso faz de nós uma espécie de anjos", "És descendente dum romance proibido entre um humano e um anjo", "Não Gabriel, é muito perigoso!", "Corre", "Concentra-te nos meus olhos...", "NÃÃÃO!!!"
       -NÃO! Afonso! - senti o meu grito a ecoar pelo vazio da clareira.
       Agora lembrava-me de tudo! O sonho não era apenas um sonho! O sonho era verdadeiro, tinha acontecido, e eu sentei-me realmente ao lado de Afonso! O grito era dele! E quem me segurava era Gabriel! E a rapariga era Inês! Como é que me pode escapar tudo durante 3 meses? O vazio começava-se a preencher e pergunta invadiam a minha mente como uma injeção de alguma substância tóxica que me queimava os músculos à medida que invadia o meu cérebro. Deixei-me estar deitada no chão mais alguns minutos a tentar assimilar tudo o que tinha acabado de acontecer, a tentar perceber se era verdade ou não... A tentar perceber que raio é que se passava comigo e à minha volta! Senti o meu bolso a vibrar e com muita dificuldade consegui atender o telemóvel.
       -Sim, mãe?
       -Saí agora do trabalho. Ligaste-me para te ir buscar?
       -Sim... Podes vir?
       -Claro, mais 10 minutos e estou ai! Estás bem? Estás com uma voz estranha...
       Oh, acabei de descobrir que recentemente me apagaram a memória ou algo do género, descendo duma linhagem de semi-anjos, a minha qualquercoisa-avó envolveu-se sexualmente com um anjo, sentei-me ao lado do melhor borracho da turma, que por acaso me contou isto e tentou impedir que me apagassem a memória, ah, já mencionei que ele é um anjo? Pois, ele e os seus amigos! Ah, e querem o meu colar, que vá-se lá saber porque, só eu e é que lhe consigo tocar e usar o que quer que seja que ele tem para ser usado!!!
       -'Tá, estou só cansada, espero por ti na entrada da escola, beijinhos e até já.
       Pus-me em pé com dificuldade e cambaleei até fora da mini-floresta. Depois de esperar 5 minutos sentada no muro da escola a minha mãe chegou e fomos para casa. Acho que ela foi a falar comigo o caminho todo... Acho. Cheguei a casa, disse que não estava com vontade de jantar, e devia estar mesmo com cara de morta para a minha mãe aceitar sem me fazer perguntas. Meti a água a correr e enfiei-me dentro da banheira. Os banhos eram as únicas coisas que me ajudavam a relaxar. Era como se fossem um universo paralelo, onde todos os problemas desapareciam e ficava só eu, a espuma, o vapor e a água.
       Não conseguia dormir então fui-me por a ouvir musica com os phones, para ver se a minha mãe não acordava, quando tive a brilhante (ou não) ideia de ver se tinha o numero do Afonso no telemóvel... Adriana M, Adriana J, Afonso... Será que era ele? Bem, se não fosse, o que era o pior que podia acontecer?
       *Sei tudo.*
       Passados 2 minutos
       *Tudo o que? De que estás a falar?*
       O meu coração começou a bater muito forte, e, sem motivo aparente, comecei a chorar.
       *T.U.D.O. Tu sabes do que estou a falar*
       *Não faças nada precipitado. Desculpa por tudo*
       "Desculpa por tudo"?! A sério?! Acho que dada a situação eu merecia mais do que um desculpa por tudo! E com isso comecei a chorar ainda mais.
       Fiquei a chorar baixinho debaixo dos lençóis quando ouvi um barulho forte e seco. Dei um salto tão grande que o Ivan saltou para o chão (novamente!). Quando olhei para a janela vi Afonso com um ar muito sério a olhar para mim e tive de morder o lábio para não acordar a vizinhança com um grito descontrolado.
       -Afonso?! O que é que estás aqui a fazer?!
       -Mas vais-me deixar aqui ao frio ou posso entrar?

6 comentários:

  1. O q será que o Afonso quer^^ Continua :b Sou tua fan ahahah

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  2. Gostei muito :)
    Estou a espera do proximo :)
    Beijinho :)

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  3. Ele deve pensar que tem que ser tudo a maneira dele, que tem que ser tudo como ele quer e quando quer...
    Mas ele esquece.se que eu ja nao sou nenhum bebe, ja tenho idade para saber o que quero e o que nao quero, so gostava que eles percebessem que eu estou feliz mas esta a costar...
    Falar com ele nao ajuda, ele ja fala +/- para mim, espero que lhe passe e melhore...

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  4. A tua história faz-me lembrar a saga Hush Hush que, por acaso, é das minhas sagas favoritas!
    Gosto imenso, estou sempre à espera de um novo capítulo e espero que continues :)

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  5. Sim, eu fui buscar ideias de várias séries que conheço (a minha melhor amiga conhece-as todas e conta-me e essa também das séries favoritas dela :P)
    Ainda bem que gostes, vou tentar não copiar muitas ideias de outras sagas xD vou continuar :D e vou tentar postar mais rápido ;)

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  6. Estou apaixonada *-* Cada vez melhor, isto !

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As vossas opiniões são mais que bem vindas, digam o que vos vai na alma e aquilo que acreditam ser o correto ♥
*SH