quarta-feira, 22 de maio de 2013

Capitulo 4 (parte 1) - " -Afonso, eu preciso de saber!"

       Chegamos à escola mesmo em cima da hora, e jurei para que naqueles três minutos de atraso a turma não tivesse decidido entrar na sala, porque dessa forma eu e o Afonso teríamos de entrar na sala, e interromper o silêncio, e isso seria estranho, realmente estranho...
       -Vês princesa? Sã e salva!
       -Ah.ah.ah engraçadinho...
       Senti-o revirar os olhos, mas não me preocupei e adiantei o passo em relação ao dele. Quando entrei no corredor vi que ainda não tínhamos entrado. Aleluia, uma coisa boa neste dia de loucos... Entramos na sala e sentamo-nos nos lugares da manhã, ou seja, estava ao lado de Afonso... Outra vez. Os 90 minutos da aula deram para explorar o meu lado artístico, e, devo dizer, não ouvi uma única palavra da aula de ... Seria história? Ou filosofia?
       O Afonso e o Gabriel passaram a aula a trocar olhares... A Inês mantinha-se de cabiz baixo, como se tivesse com uma bruta ressaca. Algo se passava, e duma coisa eu tinha a certeza,eu ia perceber o que...
       Quando finalmente tocou, agarrei nos livros e meti a mala ao ombro. Fui das primeiras a sair da aula, e reparei que o Gabriel tinha ficado para trás, a ajudar a Inês a por-se em pé, enquanto o Afonso vinha praticamente atrás de mim. 
       -Vem comigo. - Agarrei-lhe o braço e puxei-o para o sentido contrário ao da multidão, e rapidamente ficamos "invisíveis".
       Conseguimos sair pela porta das traseira da escola, e uma das coisas que eu amava nesta escola é que era rodeado por vastos campos de relva, com algumas árvores e banquinhos de madeira. Passei aqui grande parte das ultimas semanas. "Ah Carolina, vamos ver a tua nova escola?", "Vamos lá fazer a tua matrícula.", "Faltaram alguns documentos, podes ir lá leva-los?", e pronto, entre ir e vir arranjava sempre um tempinho para ir passear pelos parques que rodeavam a escola. Num desses dias decidi ir mais longe e descobri um lago, onde acredito que ninguém vá, porque está incrivelmente limpo, e situa-se numa clareira, onde acredito que ninguém se arrisca a ir... Excepto eu, porque eu gosto de arriscar.
       -Onde estamos a ir? Sabes que o Gabriel e a Inês vão perceber que eu fui raptado. - Ele deixou soltar um riso, mas percebi pelo seu tom que ele estava tão ou mais tenso do que eu.
       -Calma, estamos a chegar. Se eles precisam assim tanto se ti ao pé deles, eles que se juntem à festa, assim podem-me todos explicar qual é o meu papel no meio desta confusão...
       -Sabes que mesmo que eu quisesse, e quero, não te posso dizer nada, não sabes? - Ele tinha parado de andar, aparentemente percebeu que já tínhamos chegado.
       Parei também e virei-me para ele, de modo a encará-lo, apesar dos meus olhos ficarem ao nível do seu peito.
       -Então há mesmo alguma coisa para dizer? - Enchi o peito de ar, para mostrar confiança que verdadeiramente não sentia... Eu queria uma resposta, e ia tê-la (apesar de não poder afirmar a ultima parte com certeza).
        -Carolina, não insistas, não te vou dizer nada... - Os olhos dele passavam do chão para o lago para as árvores para os pés, mas eu queria que eles passassem e ficassem nos meus olhos.
        -Afonso, eu preciso de saber! - Pus-me em bicos dos pés e olhei para ele com o olhar mais sincero que tinha.
        Ele ficou a olhar para mim, quase como preso pelo meu olhar. Eu não o queria deixar ir, queria tentar ler-lhe os pensamentos, queria tentar descobrir a verdade, queria que aquilo que eu sinto quando olho para ele ou lhe toco não fosse mera coincidência. Queria que ele olhasse para mim com o Gabriel olha para a Inês, queria respostas...
       Ele desviou os olhos por breves momentos para o meu colar. Um olhar que teria passado despercebido, se eu não tivesse a olhar fixamente para os seus olhos, a observar os seus micro-movimentos.
       -Porque é que olhas-te para o colar, Afonso? O que é que o colar têm haver como o que tu me queres contar mas é assim tão secreto e confidêncial que não podes?
       Os ombros dele ficaram tensos e voltou a encarar-me, mas desta vez provocou-me um arrepio na espinha e senti-me encolher como um cão com o rabinho no meio das pernas.
       -Não te posso dizer nada, é assim tão difícil de perceber? É para teu bem! Eu não quero que nada de mal te aconteça. - Disse esta ultima frase devagarinho, para que eu a compreendesse.
       Abri a boca, mas voltei a fechá-la. Ele aproximou-se de mim devagarinho, e colocou a mão na curva do meu pescoço.
       -Eu não quero que nada de mal te aconteça. - Continuou a aproximar-se.
       -Não! Se não queres que nada de mal ma aconteça então prepara-me para o que está para vir, ensina-me o que tenho de aprender, conta-me o que se passa, explica-me porque sou um perigo...
       -É mesmo isso que queres saber? Queres mesmo saber o que tu és? O que é que eu, o Daniel e a Inês estamos aqui a fazer? Queres mesmo saber o significado desse maldito colar?!
       -Quero! - Gritei.
       -É de mais para ti, não estas pronta... Não vais simplesmente acreditar...
       -Tenta...

sábado, 18 de maio de 2013

Capitulo 3 - "-Eu queria, mas não posso."


   

       -Afonso? Já estamos suficiente longe da escola, e daqui a nada começam as aulas da tarde, não posso faltar logo no primeiro dia!
       -Nós voltamos a tempo.... Ou mal o Gabriel nos diga se está tudo bem, e é seguro voltar...
       -Seguro? Mas qual é o perigo afinal? Pela forma como o Gabriel me tratou, parecia que eu é que era o perigo...
       -Não, mas de certa maneira és tu que atrais o perigo....
       -O que?! Oh valá, eu sou a miúda nova, conheço-vos à menos de 24h e já vos meto em perigo?
       -Não te posso dizer mais nada... Aliás. já falei demais.
       -Desculpa? Agora vais continuar! como assim eu sou o perigo?
       -Já falei demais, vou ligar ao Gabriel para ver se a Inês está bem...
       Estávamos no meio duma pequena floresta. Quer dizer, acho que não podia ser chamada floresta, era apenas um pequeno bosque, com uma estrada de lama a uns metros de distância do sitio onde nos encontravamos. Noutra época do ano, noutras circunstâncias, estaria mais interessada em apreciar a natureza, as grandes árvores que mal deixavam ver o céu, o som dum pequeno ribeiro que passava ali ao lado, o som das folhas a agitarem-se com o vento, mas naquele momento apenas conseguia pensar no remoinho em que a minha vida se tinha tornado apenas em algumas horas!
       Belisquei-me (por muito infantil e absurdo que isso fosse)... E com a dor, todas as minhas esperanças de estar dentro dum sonho foram por água abaixo.
       "Sim, mas tens a certeza que foi isso que ela sentiu? É que sabes a gravidade da situação se tiver sido isso, não sabes?", silêncio, "Pois, também não sei o que se passa, só se que se for isso então temos de fazer alguma coisa e depressa! Desta vez conseguimos agir a tempo, mas para a próxima quem sabe...", silêncio, "Mas vocês estão bem?", silêncio, "Ah, ainda bem!", chamada terminada.

       -A Inês está bem?

       -Sim, estão os dois, ela já esta mais calma...
       -Calma? Mas o que é que se passava?
       -Quanto menos souberes melhor!
       -Aparentemente isto é tudo por causa de mim, por isso convém que eu saiba, não?! - Estava a começar a precisar de respostas, mas quantas mais perguntas surgiam, mais longe elas pareciam estar...
       -Olha, é melhor voltarmos para a escola antes que tenhamos problemas.
      -Então não me vais dizer o que se passa? Porque é que a Inês se sentiu mal e pareceu que ia acabar o mundo nesse instante? E porque é que isso tudo tem a ver comigo?
       Ele parou de andar e virou-se. Os olhos dele estavam mais sinceros que nunca, e a maneira como ele olhou para mim fez-me suster a respiração, à espera do que ele poderia vir a dizer.
       -Eu queria, mas não posso.